Oi, ícone da privatização tucana, pede recuperação judicial R$ 65 bilhões junho 20, 2016

 por Esmael Norais



O modelo de privatização de estatais na era Fernando Henrique Cardoso, enaltecido pela mídia e os partidos de direita durante os anos 90, deu seu último suspiro com o anúncio da dívida de R$ 65 bilhões da telefônica Oi e o consequente pedido de recuperação judicial. Dentre os credores está a “viúva”, isto é, o BNDES.
A Oi era a joia da coroa tucana, que simbolizava o fim do estatismo na telefonia e em outros setores considerados estratégicos no país — como siderurgia, ferrovia, rodovias, etc.

As privatizações criminosas daquela época envolveram propinas gordas que fazem da Lava Jato trocado, segundo denúncia do jornalista Amaury Ribeiro Júnior no livro “Privataria Tucana“.
A débâcle no modelo de privatização é uma pá de cal na intenção do interino Michel Temer (PMDB) de acelerar ativos de estatais como a Petrobras.
Também é mais uma derrota do neoliberalismo econômico de proporções dantescas na América Latina, pois fulmina de morte a “Agenda Brasil” de Renan Calheiros (PMDB-AL) e a “ponte para o futuro” de Temer.
A Oi possui um conjunto de empresas subsidiárias no Brasil e em Portugal.
Abaixo, reproduzo artigo do jornalista Elio Gaspari sobre a teleprivataria tucana:
Elio Gaspari, O Globo
A Oi e os delírios da teleprivataria
Michel Temer fala em abrir um novo ciclo de privatizações de empresas e bens públicos. Tudo bem, mas os sábios de Brasília deveriam estudar a ruína da Oi. Ela é a maior operadora de telefonia fixa do país, quarta do mercado de celulares, com 70 milhões de clientes em 25 estados.
A Oi deve R$ 49,4 bilhões, com R$ 1 bilhão vencendo em julho, e não tem de onde tirá-los. Sua gerência está tonta, a empresa já teve dez presidentes, e seu conselho está dividido.
Pelo andar da carruagem, a Oi vai para recuperação judicial ou seus credores tomarão um tombo, sendo levados a converter créditos em investimentos. Como era de se esperar, a Viúva ficará com um pedaço da conta e deverá renegociar os prazos de seus empréstimos.
O Banco do Brasil e a Caixa têm cerca de R$ 6,5 bilhões no negócio. O espeto do velho e bom BNDES está em R$ 4,5 bilhões. (Além desse ervanário, a Oi deve R$ 5 bilhões ao governo, derivados sobretudo de multas.)
Empresa necessariamente ligada a serviços de engenharia, a Oi gasta R$ 500 milhões anuais com advogados. À voracidade de seus operadores, não correspondeu eficácia na gestão. Sua força esteve nos palácios, e sua ruína é uma aula.
A Oi é a primeira grande empresa do programa de privatizações do tucanato a ir para as cordas. Em 1998, amparado pelo fundo de pensão do Banco do Brasil, o consórcio Telemar, liderado pelo empresário Carlos Jereissati e pela empreiteira Andrade Gutierrez, arrematou o lote das teles do Rio e de outros 15 estados.
Armação meio girafa, foi considerada “um tanto artificial” pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. O ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, foi mais duro e chamou a Telemar de “Telegangue”.
O tucanato suspeitava que a conta iria para o BNDES e decidiu marcar a empresa de perto. FHC chegou a definir essa vigilância: “linha extradura”. Ilusão. (Nunca se deve esquecer que a Telerj, absorvida pela Telemar, havia sido presidida por uma flor do collorato. Chamava-se Eduardo Cunha.)
A Telemar perdeu alguns sócios pequenos, fez acrobacias, trocou de nome, virou Oi e floresceu durante o comissariado petista. Em 2008, com a ajuda do Banco do Brasil e do BNDES, comprou a Brasil Telecom, que operava em dez estados.
Assim nasceu o que a megalomania do período chamou de SuperTele, com 62% do mercado de telefonia fixa do país. Seria a segunda maior empresa privada do país. O presidente da Oi dizia que era uma semiestatal, pois 49% do seu capital vinham do BNDES e de fundos de pensão da Viúva.
Terminadas as festas pela criação da SuperTele, descobriu-se que a Oi comprara um passivo de R$ 2,5 bilhões. Diante do mau passo, o comissariado dobrou a aposta e alavancou a fantasia da transformação da SuperTele (endividada em R$ 27,5 bilhões) numa multinacional.
Em 2013, com a bênção de Lula, José Dirceu e de outros santos menores, armou-se a fusão da Oi com a Portugal Telecom. Ela teria cem milhões de clientes e R$ 37,5 bilhões de faturamento.
Com as caravelas portuguesas, vieram investimentos em aventuras petistas no mercado de comunicações. Nasceu até mesmo o falecido jornal “Brasil Econômico”. Nessa altura, Carlos Jereissati e a Andrade Gutierrez reduziram suas participações a níveis desprezíveis.
Desde o primeiro dia, o problema da Telemar/Oi foi de falta de gestão e excesso de conexões. É da Oi a antena que serve ao sítio de Atibaia que dá conforto a Lula, e a empresa investiu R$ 5,2 milhões no negócio de videogames de seu filho.
Bancos oficiais, banqueiros amigos e fundos de pensão prometiam milagres. O BTG Pactual chegou a armar um fundo de R$ 2 bilhões. Deu zebra, a Portugal Telecom se encrencou em transações bancárias na Europa, e em 2016 a dívida da Oi se descontrolou. A empresa valia R$ 25 bilhões quando os portugueses entraram. Hoje ela vale R$ 500 milhões.
Se os acionistas não chegarem a um acordo, a Oi, ex-SuperTele, ex-campeã nacional, virará uma Tchau. Como esse caminho seria um suicídio, a lição terminará com prejuízo para os donos, os credores e, com certeza, para os clientes. Os doutores acreditaram na força de suas conexões políticas.

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