O Governo do Estado de Minas Gerais desviou R$ 63 milhões de um fundo voltado para a fiscalização ambiental da atividade de empresas mineradoras que atuam em seu território para bancar o lucro contábil das empreiteiras que reformaram e administram o estádio do Mineirão, no ano orçamentário de 2013, em ato que foi considerado irregular pelo TCE-MG (Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais).
O repasse foi feito pela administração do então governador e atual senador Antonio Anastasia (PSDB). Em nota, o PSDB-MG afirma não ter cometido qualquer ilegalidade, e diz também ter interrompido a prática considerada irregular após ter sido alertado pela corte de contas (leia mais abaixo).
O dinheiro que deveria ter sido investido em causas ambientais, mas que foi canalizado para a administração de um estádio, é oriundo da cobrança da CFEM, ou Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, tributo previsto na Constituição Federal que é revertido a Estados onde existem atividades de mineração.
Ele é pago por empresas mineradoras e, segundo a lei, deve ser revertido à recuperação do meio ambiente ou para o desenvolvimento de fiscalização e infraestrutura das cidades que abrigam empresas mineradoras. É o caso, por exemplo, do município mineiro de Mariana (110 km de Belo Horizonte), palco da catástrofe ambiental gerada pelo rompimento da barragem de resíduos da mineradora Samarco, em novembro do ano passado.
Como TCE-MG vê uso errado da verba
No caso em questão, o dinheiro deste imposto serviu de pagamento para o consórcio Minas Arena, composto pelas empreiteiras Construcap, Engesa e Hap Engenharia, que reformou e administra o Mineirão, por força de um contrato de 27 anos de duração, assinado pelo governo mineiro com as construtoras.
Relatório do TCE-MG referente às contas do Estado mineiro de 2013 apontou a irregularidade e determinou que os repasses indevidos deixassem de acontecer. Tal documento veio à tona na última terça-feira (12), quando foi apresentado à CPI do Futebol na Câmara dos Deputados pelo deputado estadual mineiro Iran Barbosa (PMDB).
O Estado de Minas autorizou créditos da ordem de R$ 131,690 milhões advindos do CFEM para pagar as empreiteiras do Mineirão. Deste montante, R$ 63 milhões foram efetivamente pagos para as empreiteiras até agora. O contrato assinado entre governo de Minas e empreiteiras garante que, caso a operação do estádio não seja lucrativa para as empreiteiras a cada ano, o Estado se incumbe de repassar verbas públicas para o consórcio, a fim de garantir seu lucro mínimo. Foi visando garantir este lucro das empreiteiras que o governo desviou as verbas ambientais em 2013.
Tal repasse foi feito porque o Executivo de MG não encontrou outra fonte de recursos para pagar as construtoras contratadas para executar a obra no Mineirão e, por força contratual, não poderia deixar de arcar com este compromisso com as empreiteiras (duas delas, aliás – a Construcap e a Engesa – são investigadas na Operação Lava Jato, sendo que a primeira está com seus principais executivos na cadeia, por ordem do juiz federal Sérgio Moro).
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