A fragorosa derrota sofrida pelo PT no domingo foi um desastre anunciado que a ninguém surpreende, ou deveria surpreender. Nem ao partido, que nesta quarta-feira reúne sua executiva para inventariar danos e culpas e discutir a restauração possível, nem aos adversários que se engajaram em sua demonização e celebram agora o êxito da empreitada.
Os erros estão aí sendo exumados, por petistas e por adversários. Houve a transfiguração do partido da ética e da mudança em partido pragmático, houve a adesão às práticas políticas que combatia na oposição e que assimilou ao conquistar o governo. Houve o conluio com a corrupção, que só se torna crime imperdoável quando praticada pela esquerda. Houve a persistência no erro, a arrogância de “partido hegemônico” na esquerda e a resistência às críticas das correntes que não se conformaram com a desfiguração. Houve tudo o que já foi tão falado, amplificado e generalizado, ao ponto de sepultar completamente as transformações produzidas pelos governos petistas, os ganhos para o país e para os mais pobres. O legado foi para o ralo, os pecados foram agora castigados.
Mas houve também o massacre, o empenho da coalizão judicial-político-midiática em fomentar o antipetismo e transformá-lo em ícone do mal na política. Houve 2013 e as manifestações de origem misteriosa, em que a direita pegou carona no Passe Livre e tomou as ruas do PT. A semeadura do antipetismo começou ainda no primeiro governo Lula mas o terreno era infértil. Depois veio a Lava Jato com sua seletividade, a opressão midiática, o colapso do governo Dilma e o golpe. Como disse Guilherme Boulos, do MTST, “poucos partidos não seriam destruídos com uma campanha destas”,
O desastre é grande e é cedo para saber se o PT conseguirá sobreviver tal como é hoje. Os votos colhidos na eleição municipal caíram de mais de 17 milhões em 2012 para menos de 7 milhões no último domingo. As 630 prefeituras conquistadas naquele pleito foram reduzidas a 231, afora eventuais vitórias no segundo turno. Seria menos mal se pelo menos uma parte dos votos perdidos pelo PT tivesse favorecido outros partidos de esquerda. Mas o PSOL, apesar de Freixo no Rio e de Edmilson Rodrigues em Belém, ensaiou mas não decolou como alternativa de esquerda. O PC do B salvou-se no Maranhão graças ao governador Flavio Dino. O PSB e a Rede já estão em outra margem. Os votos perdidos ajudaram a proporcionar a grande vitória do PSDB, desaguaram no oceano de brancos e nulos ou em candidaturas de partidos antes amorfos que agora ajudam a dar cara à direita emergente. O Brasil endireitou, como cunhou Leonardo Attuch aqui no 247.
Os tempos serão duros para o PT, para os movimentos sociais e para toda a esquerda. Os traços de um Estado de exceção podem se aprofundar, os ensaios de repressão podem tomar forma mais violenta. O PT começa na reunião de hoje a juntar os cacos mas o desafio de construir alternativas é de todo o campo progressista.
A reunião da Executiva deve adotar providências para acelerar o reposicionamento do partido, antecipando talvez o congresso do ano que vem e o processo de eleição direta, o PED. Há setores conclamando Lula a assumir a comando do partido, apesar de seus próprios problemas com a Lava Jato. Outros preferem uma forte renovação, inclusive geracional, na direção petista, como os que defendem a eleição do senador Lindbergh Farias para a presidência. E existe ainda o risco de implosão, de um racha significativo que poderia dar origem a alguma nova configuração partidária. Seja como for, a luta social não acaba com o tombo do PT.
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