GOLPE Ao minimizar protestos contra seu governo, Temer estimula maior participação popular

Na China, para onde embarcou após tomar posse, presidente mostra desconsideração por manifestações democráticas. Movimentos esperam fazer grande ato domingo (4), a partir das 16h30, na Avenida Paulista



Movimentos sociais à frente das reações contra o golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff rechaçaram com veemência as declarações de Michel Temer, que tentou minimizar os efeitos e as dimensões das manifestações organizadas pelo país desde a ratificação do golpe pelo Senado, na quarta-feira (31). Na China, para onde viajou imediatamente após ser empossado presidente, Temer disse a jornalistas da mídia tradicional que o acompanham que "quem muitas vezes se insurge, como um ou outro 'movimentozinho', é sempre um grupo muito pequeno de pessoas. Não são aqueles que acompanham a maioria dos brasileiros”, ao dizer que estava lançando uma "mensagem de reunificação e repacificação nacional".
"Ele mesmo sabe que isso não é verdade. Os golpistas propalavam que o impeachment ia pacificar o Brasil, mas agora estamos em luta contra esse governo que quer liquidar direitos da população. Ele está tentando minimizar o fato de que desde o golpe está tendo protesto todo dia, em várias cidades brasileiras, mesmo sob forte repressão policial. E domingo, certamente, vai ter muita gente na rua contra esse governo golpista", respondeu Raimundo Bonfim, coordenador da Frente Brasil Popular – uma das entidades que coordena mais uma manifestação contra o golpe, domingo (4), a partir das 16h30, na Avenida Paulista.
Gilmar Mauro, coordenador estadual do MST em São Paulo, disse que, ao contrário do que Temer disse pregar, suas declarações estimularão a participação popular em todos os protestos contra o golpe. "Essa declaração do presidente golpista, assim como do ministro da Justiça (Alexandre de Moraes) elogiando a ação violenta da polícia e a imprensa incitando à repressão, em vez de intimidar, só vai ampliar a insatisfação e a vontade de lutar da população. Vêm ocorrendo protestos desde o dia do golpe, o que só tende a crescer, reunir cada vez mais gente, até inviabilizar esse governo golpista."
"Temer declaradamente assumiu não para governar para o povo e para levar em conta as demandas sociais. Apesar disso, ele não pode deter as mobilizações. Não é nos tratando no diminutivo que os atos vão deixar de crescer. Pelo contrário, eles já cresceram e vão continuar crescendo", afirmou o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Josué Rocha.
Integrante do Levante Popular da Juventude, Barbara Ponte destacou a intenção de desqualificar a crescente reação ao golpe que levou Michel Temer ao poder, destituindo uma presidenta eleita democraticamente. "A intenção do presidente ilegítimo é de descaracterizar e deslegitimar todas as manifestações contrárias à presença dele no governo. Ele quer fazer parecer que não há uma insatisfação, mas o correto é que vemos em todos os cantos manifestações contrárias ao golpe, não só dos movimentos sociais, mas de toda uma juventude homogeneizada nesse processo. Nossa tarefa é transformar esse sentimento em luta."
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que a declaração de Temer é característica de quem sempre transitou nas elites e tem pouco hábito de conviver com o povo. "Em se tratando de alguém que usurpou o mandato e que não teve voto, me chama atenção esse tipo de manifestação discriminatória", afirmou, acrescentando que o país enfrenta "um golpe de classe com objetivo de destruir direitos e promover retrocesso no país".
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