A demissão do advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, pode ser uma faca de dois gumes para o governo de Michel Temer; de uma lado, facilita a vida das empreiteiras e pode evitar delações comprometedoras contra o PMDB; isso porque Osório havia aberto ações de reparação que cobravam nada menos que R$ 23 bilhões das construtoras e dos executivos envolvidos na Lava Jato; o risco é que Temer e seu ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, sejam acusados de obstruir a Justiça e a tentativa de recuperação dos valores – até porque tanto Temer como Padilha foram citados na pré-delação da Odebrecht; Medina também havia pedido acesso a inquéritos contra políticos da base aliada de Temer
9 DE SETEMBRO DE 2016
247 – A demissão de Fábio Medina Osório da advocacia-geral da União, sacramentada na noite de ontem por Eliseu Padilha (saiba mais aqui) eformalizada hoje pelo Palácio do Planalto, foi um momento arriscado por parte do governo Temer.
De um lado, a saída de Osório favorece as empreiteiras, uma vez que a AGU, no governo Temer, entrou com ações que pedem indenizações de nada menos que R$ 23 bilhões das construtoras e dos seus executivos.
Ao ajudar as empreiteiras, Temer desestimula novas delações premiadas – o que pode vir a atender seus próprios interesses, assim como os de Padilha.
Em sua pré-delação, Marcelo Odebrecht disse que Temer, numa reunião em pleno Jaburu, pediu R$ 10 milhões, que teriam saído do caixa dois da empreiteira. Desse montante, R$ 4 milhões teriam sido entregues a Padilha (leia aqui).
O risco, agora, reside na possibilidade Osório sair atirando. Magoado pela forma como foi demitido por Padilha, ele pode acusar o chefe da Casa Civil e o próprio Temer de tentar obstruir a Justiça.
"Osório volta a alegar que esta sendo demitido porque defende a Lava-Jato e combate as empreiteiras. Essa versão irritou profundamente o presidente Temer ao ponto de ele próprio ter delegado ao ministro chefe da casa civil Eliseu Padilha a missão de demitir o procurador", diz Jorge Bastos Moreno, um dos jornalistas mais próximo a Temer.
Abaixo, reportagem sobre o estopim para a saída do ministro, que teria sido o acesso a inquéritos contra políticos da base aliada:
FONTES:AÇÃO CONTRA POLÍTICOS NA LAVA JATO TERIA SIDO ESTOPIM PARA DEMITIR MEDINA, PLANALTO NEGA
Brasília, 9/9/2016 - Medidas que contrariaram interesses de políticos investigados na Operação Lava Jato foram a gota d'água para a demissão do advogado-geral da União, Fábio Medina Osório. Conforme fontes do governo, ouvidas pelo Estado, o Palácio do Planalto não teria concordado com o fato de o ministro ter solicitado acesso a inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) que apuram desvios na Petrobras e outros órgãos públicos, com o objetivo de ajuizar ações de improbidade administrativa contra os envolvidos.
No último dia 24, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, autorizou o acesso a 12 inquéritos, que citam vários políticos da base aliada do presidente Michel Temer. Uma autoridade do governo explica que o pedido da AGU foi feito sem alinhamento com o Planalto e poderia criar um "incidente político" com apoiadores no Congresso.
O assunto foi citado na conversa entre Medina e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, na noite de quinta-feira, que resultou na exoneração do advogado-geral.
Embora estivesse disponível, o material não chegou a ser recolhido pelos representantes da AGU no Supremo no tempo desejado pelo ministro. Segundo uma fonte do órgão, teria partido da Casa Civil orientação para que os inquéritos não fossem copiados. Ao ministro, um dos representantes desse setor alegou que faltava um HD externo para salvar as informações, o que não foi aceito.
Além disso, segundo fontes, o ministro propôs um reforço na equipe da AGU que trabalha no Paraná em parceria com a Lava Jato, o que também teria sido visto com preocupação pelo Planalto.
Fontes ligadas ao presidente Michel Temer, entretanto, rechaçam as versões e dizem que o agora ex-ministro deixa o cargo "pelo conjunto da obra" e que é "falaciosa" e mentirosa a acusação de que o governo quer interromper os trabalhados na Lava Jato, já que a nova ministra doutora Grace Maria Fernandes Mendonça vai continuar os trabalhos de combate à corrupção.
Após a oficialização da demissão de Medina, pessoas da equipe próxima do ex-advogado-geral informaram ao Palácio do Planalto que ele estava querendo despachar enquanto ainda não havia sido oficializada a sua saída no Diário Oficial da União. Segundo relatos, Medina teria tido "um surto" querendo ter suas ultimas ações como ministro. Com isso, o Planalto acelerou a publicação do Diário Oficial Extra que exonerou Medina e nomeou Graça Mendonça. "Ele vai vender a versão de que é injustiçado, mas isso não é verdade. Ele cometeu uma série de erros, está saindo pelo conjunto da obra", disse um interlocutor de Temer. (Fábio Fabrini e Carla Araújo)
Abaixo, reportagem de Fausto Macedo, sobre a cobrança da AGU contra as empreiteiras:
AGU cobra mais R$ 12 bi de empreiteiras da Lava Jato
Por Fausto Macedo, em 30 de maio de 2016
A Advocacia-Geral da União, por meio da Procuradoria da União no Estado do Paraná, ajuizou nesta segunda-feira, 30, duas ações de improbidade contra 15 empresas e 12 pessoas físicas – entre executivos e ex-funcionários da Petrobrás – envolvidos na Operação Lava Jato (veja lista abaixo), em decorrência do sobrepreço ocasionado pela formação de cartel e de fraudes licitatórias em prejuízo da estatal petrolífera. A AGU cobra um total de R$ 12,06 bilhões.
Agora chega a R$ 23 bilhões o total que a AGU cobra de empresas e pessoas físicas citadas na Lava Jato. Em duas ações de improbidade administrativa ajuizadas anteriormente o valor cobrado atingia R$ 11 bilhões.
Dos R$ 23 bilhões pleiteados, R$ 5,6 bilhões são referentes aos prejuízos que a Petrobrás sofreu com o superfaturamento de obras contratadas pela estatal junto ao cartel que fraudou licitações da estatal e outros R$ 17,4 bilhões em multas que deverão ser aplicadas aos réus.
Segundo a AGU entre as construtoras citadas nas ações estão Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, UTC, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Mendes Júnior e Engevix. Entre as pessoas físicas processadas pela AGU, estão ex-dirigentes da Petrobras, como Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Costa (Serviços) e Pedro Barusco (gerência de Serviços), além do doleiro Alberto Yousseff e executivos das empreiteiras.
Nas ações, a Advocacia-Geral da União argumenta que ficou comprovada a formação de cartel com base em manifestação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), bem como em provas colhidas em processos penais.
Os documentos demonstram que ‘as empresas se organizaram para fraudar as licitações de grandes obras da Petrobrás, de modo a dividir entre si as mais valiosas contratações propostas pela estatal e eliminar a concorrência, o que levou ao aumento arbitrário e ilícito dos lucros (sobrepreço)’.
Em razão desse sobrepreço, a AGU pede nas duas ações propostas nesta segunda-feira, 30, a condenação solidária dos réus a ressarcir o montante correspondente a 17 % sobre cada um dos respectivos contratos fraudulentos, o que totaliza pouco mais de R$ 3 bilhões.
O valor foi estabelecido com fundamento em laudo aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ‘levando em conta a diferença entre o preço praticado no ambiente cartelizado e o preço que seria praticado em ambiente competitivo’.
Na hipótese de não acolhimento do laudo do TCU, a Advocacia-Geral da União pede que os réus sejam condenados solidariamente ao pagamento de ressarcimento equivalente ao valor total do contrato, deduzidos os seus custos lícitos. Ou seja, a AGU pede alternativamente a devolução dos lucros, com fundamento na Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, ratificada pelo Brasil, e no ordenamento jurídico brasileiro, ‘para que não haja enriquecimento ilícito por parte dos réus e evitar que a prática de improbidade compense’.
Segundo a AGU, essa tese já é aplicada por diversos países, como Itália e Estados Unidos. Além do ressarcimento ao erário, nessas ações pede-se a aplicação de outras sanções previstas na Lei de Improbidade (Lei 8.429/92), o que abrange a suspensão de direitos políticos até 10 anos para as pessoas físicas, proibição de contratar com o Poder Público, e multa de até 3 vezes o valor do proveito econômico ilicitamente obtido, no total superior a R$ 8 bilhões.
As ações apresentadas são assinadas pelo advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, e pelos advogados da União Eduardo Alonso Olmos, Julio Cesar Bertuzzi, Lisiane Ferazzo Ribeiro, Rodrigo Becker Rogério Pereira e Vitor Piarrentoni Campos.
A LISTA DAS EMPRESAS E PESSOAS MENCIONADAS NAS AÇÕES DE IMPROBIDADE DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO:
OAS Engenharia e Participações S/A
Construtora OAS LTDA
Coesa Engenharia LTDA
Construtora Noberto Odebrecht
Odebrecht Plantas Industriais e Participações S/A
Odebrecht S/A
UTC Engenharia S/A
Galvão Participações S/A
Galvão Engenharia S/A
Tomé Equipamentos e Transportes LTDA
Alumini Engenharia S/A
Serveng Civilsan S/A
Fidens Engenharia S/A
Iesa Óleo & Gás S/A
Construtora Queiroz Galvão S/A
Eduardo de Queiroz Galvão Filho
Paulo Roberto Costa
Renato de Souza Duque
Pedro Barusco
Alberto Youssef
José Aldemário Pinheiro Filho
Agenor Franklin Magalhães Medeiros
Mateus Coutinho de Sá Oliveira
José Ricardo Nogueira Breghirolli
Fernando Augusto Stremel Andrade
Erton Medeiros
Jeal Alberto Luscher Castro
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