Jornal GGN - Após a queda de Eduardo Cunha pela inelegibilidade, com seu afastamento definitivo da política direta até janeiro de 2027, os jornais da manhã desta terça-feira (13) destacaram o isolamento de Cunha pelo governo de Michel Temer, como se o primeiro não tivesse atuado em parceria intrínseca com o segundo para a saída de Dilma Rousseff.
As manchetes "Cunha é cassado por 450 votos, sai sob vaias e se queixa de abandono de Temer", da Folha de S. Paulo, "Planalto avalia que relação com Câmara deve se estabilizar após queda de Cunha", de O Globo, e por fim, o editorial "Tempo de reconstruir", do Estado de S. Paulo, dão o tom do que está por vir.
Trata-se de uma tentativa de enterrar os erros e manobras do PMDB, uma vez com a vitória agora consagrada na cadeira maior do país, junto com a cassação de Eduardo Cunha. Michel Temer sentiu alívio, com o fim daquele que personificou todas as artimanhas do seu grande partido para derrubada do governo PT.
A separação Temer, o conciliador e pacificador da nação, do pior que representou à sua sigla e seus aliados para que o então vice-presidente alcançasse o posto, já pode ser visto nas manchetes do dia pós Cunha.
A vitimização do discurso do peemedebista ex-presidente da Câmara, de que o apoio do atual presidente a Rodrigo Maia ajudou a sua cassação, em reportagem da Folha, mostra essa linha.
"Culpo o governo hoje não porque ele tenha feito nada para me cassar mas quando ele patrocinou a candidatura do presidente que se elegeu [Rodrigo Maia]", afirmou Cunha sobre o fim da sua elegibilidade.
O Globo foi um pouco mais direto. Em reportagem que recebeu destaque privilegiado na página principal, o jornal transfere ao próprio presidente a iniciativa de tentar se descolar do agora ex-deputado Eduardo Cunha.
Interlocutores ouvidos pelo diário "minimizaram" ao afirmar que "pouco irá se alterar" com a saída definitiva de Cunha, mas esperam "estabelecer uma relação mais serena com a Câmara". E completou: "algo que já vinha sendo construído desde o afastamento de Cunha pelo Supremo Tribunal Federal (STF)".
A estratégia de Temer é, junto com a derrubada de Cunha, também desintegrar o chamado "centrão", bloco político liderado pelo ex-presidente da Câmara, que reunia nanicos. Ao Globo, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, deu o recado do Planalto: "nunca tratei com o centrão, um termo que foi inventado. Trato com os líderes partidários e políticos", disse.
A intenção é manter o apoio que tem hoje Michel Temer do Congresso, para aprovar as medidas de interesse de seu governo. "Os deputados do centrão continuarão unidos, porque convivem há muito tempo, mas não há hoje uma liderança que aglutine esse grupo como Eduardo Cunha fazia. Ele potencializava muito a rivalidade com o PMDB, porque turbinava o centrão com cargos e espaços na Câmara. Mas, o centrão está muito bem atendido no governo Temer, então acredito que não darão trabalho para governar", disse um aliado de Temer ao jornal.
Já o Estadão preferiu usar seu espaço de Opinião para expor a sintonia absorvida pelos jornais com a linha atual do governo Temer. "Tempo de reconstruir - Reconstruir o País e abrir caminho para uma nova etapa de vigor, dinamismo e criação de oportunidades é a grande tarefa, depois de rompido o desastroso domínio do PT".
Pela linha fina, mais parece um editorial escrito após o impeachment de Dilma Rousseff. Mas não é. O artigo é uma enfática defesa da "esperança" apostada por Temer para angariar apoio às suas medidas radicais que pretende na economia, incluindo terceirizações, privatizações e reduções sociais.
Sem citar o nome de Eduardo Cunha, o texto traz o recado em seu título do que se quer: "reconstruir", após a derrubada do governo do PT e o fim de um dos males do PMDB. O combo "crítica ao PT + esperança de superação com Temer" está presente em toda a coluna opinativa.
"Não basta haver encerrado a longa fase de populismo, mentira, irresponsabilidade e pilhagem do Estado. O resgate só será completo com a retomada do trabalho, interrompido por mais de dez anos, de modernização das instituições, de reforma do governo e de revalorização da seriedade e do esforço produtivo e criativo em todos os setores de atividade – públicos e privados", diz logo no primeiro parágrafo.
O editorial vai além. Chega a criticar os direitos garantidos na nossa Constituição de 1988, para defender a flexibilidade das leis e dos direitos em prol do lucro e da economia. "Nem todos percebem, no dia a dia, como as normas constitucionais afetam os custos da economia brasileira e limitam – de fato, severamente – as possibilidades de crescimento da produção e de criação de empregos decentes e úteis", afirma.
"Coleção de nobres princípios e de bons propósitos, a Constituição de 1988, tanto na forma original quanto depois de grande número de emendas, engessa as finanças públicas, facilita o desperdício, dificulta o equilíbrio fiscal, cria ambiente favorável à inflação e impõe obstáculos ao crescimento econômico", completa.
Neste sentido, a coluna opinativa do Estadão defende que a proposta de Michel Temer de um teto para o aumento da despesa pública - o editorial não contextualiza, mas é a tal PEC 241/16, que congela os gastos públicos por 20 anos e reduz diretamente os investimentos do governo na Saúde e na Educação - é um "passo inicial para a correção de algumas dessas - para usar uma palavra suava - inadequações".
"Mas a Constituição formulada com bons sentimentos e belas intenções é só uma das fontes de problemas legais, a começar, é claro, pelas vinculações criadas sem pragmatismo, sem visão de futuro e sem racionalidade administrativa", segue.
Por fim, o texto conclui que "os brasileiros têm mais uma oportunidade, agora, de atacar essas questões e de reconstruir o País segundo modelos melhores para todos", após o fim do PT e o fim de Cunha.
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