247 - A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) encara nesta segunda-feira (29) o seu segundo interrogatório em defesa da democracia brasileira. O tribunal da vez é o Senado da República, que deveria ser o bastião de liberdade, mas que sombriamente tornou-se nos últimos dias uma praça de exceção, dentro de um roteiro já determinado do golpe contra a presidente e ao menos 54,5 milhões de brasileiros que a nela depositaram seus votos nas últimas eleições.
É impossível não associar o interrogatório desta segunda-feira àquele de novembro de 1970, no Rio de Janeiro, onde a jovem Dilma, com 22 anos, após 22 dias de tortura incessante nos cárceres da ditadura, era interrogada por uma junta de covardes uniformizados, com as mãos sobre os rostos na tentativa de esconder suas vergonhas. Aquele interrogatório, como este, será inscrito nos livros como dois dos episódios mais repugnantes da história brasileira.
O que diferencia os dois tribunais é a evolução do cinismo daqueles que, hoje no Senado, assemelham-se aos personagens de 1964. Saíram das sombras e hoje mostram as faces sem rubor, seguidos de uma horda de traidores que dançam conforme a música do golpe tocada no Palácio do Jaburu, quartel general do arbítrio contemporâneo.
Dilma hoje representa a figura da decência em um mar de iniquidade. Reflete o Brasil que é visto com alegria e potencial de transformações sociais no mundo. Sua deposição, ao contrário, constrange os golpistas e macula o nação aos olhos internacionais. O golpe é descrito com precisão nos jornais francês L’Humanité como o golpe do colarinho branco e mesmo no norte-americano The New York Times como um ataque de ratos contra uma Dilma acuada.
Dilma, ao enfrentar seus algozes pela segunda vez, novamente de peito aberto, refaz a jornada da heroína em um roteiro capaz de esculpir um mito de resistência democrática. Assim será ela descrita na história.
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