Os senadores que pretendem votar pelo impeachment não podem ficar cegos, surdos e mudos diante das evidências cada vez maiores de que PT e PMDB atuaram de comum acordo em todas as negociações durante o governo Dilma, com a ressalva de que o PMDB era a parte mais forte, por ser o maior partido e poder aprovar no Congresso Nacional o que quisesse, mesmo (e principalmente) quando o governo fosse contra.
Isso fica muito cristalino na negociação da Medida Provisória 647/2013 revelada em delação da Odebrecht vazada hoje por "O Globo", que, aprovada em maio de 2014 reduziu a alíquota do Imposto de Renda sobre lucros obtidos fora do país de 35% para 25%.
Embora a delação tenha sido veiculada sob o título "Odebrecht deu 100 milhões ao PT" e haja uma clara tentativa de criminalizar Guido Mantega, é evidente que o PMDB participou desse episódio muito mais que o governo, pois toda a tramitação dependia do Congresso Nacional e não do Executivo e não há citação a nenhum deputado ou senador do PT. Muito menos a Mantega.
O que diz trecho da matéria d'"O Globo" é o seguinte:
- "Mensagens encontradas no celular de Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez revelam que Eduardo Cunha, então, líder do PMDB na Câmara dos Deputados negocia diretamente com ele detalhes da medida".
Se quem negocia é Eduardo Cunha e não Mantega, não há como não concluir que o interesse na aprovação e no recebimento da propina é dele, como líder do PMDB e dos caciques do seu partido. E não de Mantega.
Diz ainda a matéria, baseada na delação, que "o debate sobre o projeto foi encaminhado de perto pelo líder do PMDB no Senado, Eduardo Braga, pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ministro Guido Mantega".
Essa é a única imputação feita a Mantega: acompanhou o projeto de perto. Não se explica qual foi o seu papel, enquanto os papéis e os interesses de Eduardo Braga (líder do PMDB no Senado) e de Michel Temer (presidente do PMDB) ficam muito bem definidos. São os mesmos de Cunha.
É impossível dissociar PT e PMDB. Não foi uma gestão na qual o PMDB apoiava o PT. Eles atuaram o tempo todo em regime de comunhão de bens, como num casamento, o que nunca antes havia ocorrido em nenhum outro governo.
Se Dilma assinou pedalada, Temer assinou pedalada. Se Dilma aprovou créditos sem autorização do Congresso, Temer aprovou créditos sem autorização do Congresso.
Se Dilma é culpada, Temer é culpado. Se Dilma é inocente, Temer é inocente.
Não pode haver impeachment de Dilma sem impeachment de Temer.
A não ser que os senadores continuem cegos, surdos e mudos.
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