Brasília – O plenário do Senado, na sessão de hoje (9), que vota a pronúncia do impeachment, viveu um momento emblemático com a declaração do voto e discurso proferidos por João Capiberibe (PSB-AP). O parlamentar é do PSB, partido que defende a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff. Mas ele manteve o voto contrário ao processo. Capiberibe tem um passado de história na luta contra a ditadura civil-militar e foi preso político na mesma época que a presidenta afastada Dilma Rousseff. Em um discurso duro, ele disse que é contra o impeachment, “pela democracia”. Afirmou, ainda, que “o impeachment é nada mais que uma encenação grotesca para cobrir a nossa falta de cultura democrática”.
Correção: este texto foi alterado às 18h50 para corrigir informação de que João Capiberibe "mudou o voto" em relação à sessão sobre admissibilidade do impeachment, em maio. Na verdade, o senador do Amapá manteve o mesmo voto contrário ao impedimento - contrariando novamente orientação de sua legenda.
O senador, nas últimas semanas, vinha se mantendo recolhido e evitando dar declarações à imprensa. Sua declaração de voto contra o afastamento foi comemorada de forma discreta pelos parlamentares que apoiam a presidenta no plenário. E foi tida como fator positivo para a votação em favor de Dilma Rousseff.
Espera-se, a partir de agora, que possa vir a tomar posição semelhante o senador José Carlos Valadares (PSB-SE), por integrar o mesmo partido e pelo fato dele ter demonstrado estar em dúvida em relação ao impeachment. A posição oficial do PSB continua sendo pelo afastamento da presidenta. Um dos principais capitães dessa corrente é o ex-ministro da Integração Nacional de Dilma Rousseff, senador Fernando Bezerra Coelho (PE).
Outra dúvida aguardada pelos parlamentares dos dois lados – pró e contra o impeachment – e que pode mudar a condução dos votos na sessão, diz respeito à posição do senador Otto Alencar (PSD-BA). Ele também demonstrou indecisão nos últimos dias quanto à forma como irá votar na sessão, e vem sendo cortejado como uma noiva, tanto por integrantes do seu partido, o PSD, como pelo PMDB, para votar pelo impeachment.
Alencar também foi convidado para sentar e participar de reuniões com representantes da bancada do seu estado, a Bahia, para votar de forma contrária ao afastamento da presidenta. Segundo integrantes do PT, deu um sinal de que tem possibilidade de mudar o voto ontem, depois de ter participado de solenidade ao lado do presidente interino Michel Temer e não ter manifestado qualquer declaração antecipada a respeito.
Novo ânimo
A posição de Capiberibe deu novo ânimo aos parlamentares da base aliada da presidenta afastada, que tentam capitanear votos de parlamentares do PSB e que ficaram chocados com as declarações feitas na última semana pelos senadores Cristovam Buarque (PPS-DF) e Lúcia Vânia (PSB-GO). Os dois diziam, igualmente, que também estavam analisando sobre a forma como iriam votar e Buarque chegou a acenar que votaria contrário ao afastamento. Mas quinta-feira, ambos declararam ser favoráveis ao impeachment da presidenta.
No caso de Capiberibe, ele foi didático em seu discurso. “Nem sei por onde começar, senhor presidente, porque a marcha da insensatez que caminha no país, avança sem chegar a porto algum. O impeachment não resolve a crise, ao contrário a aprofunda”, afirmou, dirigindo-se ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, que preside a sessão. "Quem vai pagar o preço do impeachment serão os trabalhadores e as pessoas que conseguiram ter certa ascensão social, mas, por conta da crise na economia, tiveram de retornar ao estado de pobreza de tempos atrás", acrescentou.
O parlamentar disse que a sociedade está dilacerada e perdendo o rumo e ele, ao lado de alguns colegas, bem que tentou conversar, meses atrás, com representantes dos dois grupos políticos, pró e contra o impeachment. “Infelizmente não deu certo, pois os senadores com quem procuramos buscar um diálogo só disseram e escutaram o que quiseram e não foi possível encontrar um termo em comum.”
Capiberibe ainda pisou no calo dos colegas que possuem processos na Justiça e afirmou que “nem todos preenchem a exigência feita de serem julgadores de um processo de impeachment porque estão envolvidos ou são réus em casos no Judiciário”. Sendo assim, acrescentou que não poderiam atuar como juízes num processo importante para o país como estão atuando.
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