A vitória popular sobre uma tentativa de golpe militar na Turquia poderá produzir dois efeitos no Brasil; o primeiro será encorajar movimentos sociais que defendem o "Fora Temer" a sair às ruas, especialmente durante a Rio 2016, quando as atenções do mundo estarão voltadas para cá; o segundo será forçar um posicionamento mais incisivo das lideranças internacionais sobre o golpe parlamentar ocorrido no Brasil; ao comentar a situação na Turquia, o presidente americano Barack Obama disse que todos deveriam respeitar o governo "democraticamente eleito"; sobre o Brasil, ele se manteve calado; silêncio internacional, no entanto, começa a ser quebrado, como no manifesto de senadores franceses contra o golpe brasileiro; com um equilíbrio frágil, Temer pode balançar
16 DE JULHO DE 2016 ÀS 08:35
247 – Na noite de ontem, uma tentativa de golpe militar na Turquia foi derrotada por uma população que saiu às ruas em defesa da democracia (leia mais na coluna de Alex Solnik). Haverá impactos sobre o Brasil, que desde 13 de maio deste ano tem um governo interino e uma presidente democraticamente eleita afastada?
Por mais difíceis que sejam as respostas, é possível prever ao menos dois efeitos. O primeiro deverá ocorrer nas ruas. Movimentos sociais que pretendiam realizar atos de "Fora Temer" durante a Rio 2016 (leia mais aqui) deverão se sentir encorajados a se manifestar, depois das cenas vistas em cidades como Ancara e Istambul. Lá, o povo nas ruas derrotou um golpe militar. No Brasil, a mudança política foi mais sutil e o interino Michel Temer chegou ao poder por meio de um golpe parlamentar, liderado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos políticos mais corruptos da história do País, e por políticos derrotados nas últimas eleições presidenciais.
O segundo efeito poderá ocorrer no plano internacional. Como o golpe turco foi explícito e violento, forçou uma rápida condenação internacional. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que até agora se mantém calado sobre o Brasil, até em razão dos interesses norte-americanos sobre o pré-sal, disse que todos devem respeitar o governo democraticamente eleito na Turquia. Mas, em algum momento, a comunidade internacional será instada a se pronunciar sobre o que ocorre no Brasil.
Nesta semana, senadores franceses, por exemplo, publicaram um manifesto no Le Monde em que condenaram o golpe parlamentar no Brasil e pediram respostas da comunidade internacional (leia aqui). Com as novas evidências de que a presidente democraticamente eleita Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade, como ficou demonstrado no pedido de arquivamento do Ministério Público Federal sobre as chamadas pedaladas fiscais, a reação internacional ao golpe parlamentar poderá crescer.
Enquanto isso, o interino Michel Temer chega à Rio 2016 sob o risco de vaias, de atentados terroristas e de grandes manifestações populares, num momento em que as atenções do mundo estarão voltadas para o Brasil. Nesse contexto, qualquer certeza ou aposta é absolutamente temerária.
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