por Emir Sader, no Jornalistas Livrespublicado 23/06/2016 13:04
Manifestação contra o impeachment de Dilma, em Brasília. Mobilização enfraquece e golpistas vislumbram sucesso de ofensivas antidemocráticas
Mesmo com as nuvens carregadas das acusações contra membros do governo e do próprio presidente interino, além da situação limite em que se encontra Eduardo Cunha, as forças golpistas retomaram iniciativa em todos os planos, contra atacam e buscam consolidar seu projeto na votação de agosto no Senado.
Contam com a falta de iniciativa política unificada das forcas democráticas, de que a suspensão da segunda reunião, terça-feira passada, entre Dilma, Requião, movimentos sociais e parlamentares, foi um sintoma claro. Contam com uma certa baixa do ritmo de manifestações contra o golpe, compreensível, porque é impossível manter aquele ritmo por muito tempo, ainda mais sem uma perspectiva de solução política positiva no horizonte.
O governo (interino) abriu o cofre para governadores, senadores, Judiciário, entre outros. Ao mesmo tempo que a direção do projeto golpista promete aos senadores e congressistas em geral a renúncia de Temer em janeiro, para entregar na mão deles a decisão sobre quem será o presidente da República em toda a segunda metade do mandato.
E Temer começa a dar entrevistas que, por mais desastradas que sejam, lhe protegem como personagem político. Ao mesmo tempo que o governo golpista tempera um pouco suas iniciativas mais radicais, deixando-as para depois da votação no Senado, e decreta medidas que possam lhe granjear apoios ou diminuir resistências no Senado.
Significativamente, depois da reunião ontem de Moro com o ministro interino da justiça, se retoma a operação repressiva contra o PT, no Paraná e, diretamente, na sede do partido em São Paulo.
Tudo para preparar o clima que virá depois de agosto, se o governo consegue os 2/3 no Senado. Um pacote cruel de expropriação dos direitos dos trabalhadores, de cortes nos recursos das políticas sociais, de privatização de empresas públicas, e reinserção subordinada do Brasil no cenário internacional. Tudo projetando o país que o governo golpista pretende ter em 2018, incluindo a desqualificação e exclusão da esquerda como alternativa.
Enquanto a esquerda se recolhe a discussões internas sobre as alternativas, a direita retoma a ofensiva. O cenário atual já demonstra que ficar simplesmente na resistência das mobilizações populares favorece a ação dos golpistas, que são os únicos que aparecem com alternativas políticas.
A resistência protesta, mobiliza, mas não desenha via de derrubada a curto prazo do governo que destrói o país. Que seria bloquear os 2/3 no Senado, para o qual seria indispensável ter proposta que agregue apoios mais além dos 22 senadores que votaram contra o impeachment. Plebiscito, como propõe Dilma, ou outra qualquer, que tenha o poder de impedir os 2/3 dos golpistas, com o qual eles terão possibilidade de seguir com seu projeto de destruição do pais até 2018.
A incapacidade de iniciativa política da luta contra o golpe, que combine mobilizações populares com proposta politica viável no curto prazo, é o que permite que a direita contra-ataque em todos os campos
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