Lula: 'Quanto mais me provocam, mais corro o risco de ser candidato'

Em ato na Avenida Paulista, ex-presidente afirma que Temer não age como presidente interino e que o propósito deste governo é promover o desmonte do país
por Redação RBA publicado 10/06/2016 21:44, última modificação 11/06/2016 02:39
RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA/FOTOS PÚBLICAS
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'Mais perverso é o conluio de alguns setores da Justiça e da imprensa, que querem me condenar por manchetes de jornal', disse Lula
São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (10), ao participar de manifestação contra o golpe, na Avenida Paulista, em São Paulo, que seus adversários tentam execrar sua imagem para evitar que ele concorra às eleições presidenciais de 2018. "Quanto mais eles me provocam, mais eu corro o risco de ser candidato", disse Lula a aproximadamente 100 mil pessoas, segundo as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, organizadoras do evento. "Se eles acham que vão me amedrontar com ameaças, eu quero dizer que quem não morreu de fome em Garanhuns (sua cidade natal, em Pernambuco) não tem medo de ameaça neste país."
O ex-presidente estava praticamente sem voz. Mas esclareceu que não está doente, e chegou às lágrimas quando mencionou o ataque a sua integridade e de sua família: "Mais perverso é o conluio de alguns setores da Justiça e da imprensa, que querem me condenar por manchetes de jornal, mas eu aprendi a andar de cabeça erguida e não perdoo a atitude de vazamento ilícito das conversas por telefone, como foi feito comigo, não admito", disse, acrescentando um recado aos seus adversários: "A única coisa que peço é que tenham por mim o respeito que tenho por eles".
Para Lula, Michel Temer e sua equipe têm como objetivo privatizar as empresas públicas e fragilizar a capacidade do Estado de intervir na condução do desenvolvimento. "Eles querem o desmonte deste país, querem vender a Petrobras, a Eletrobras". Segundo o ex-presidente, a decisão do Senado de admitir o processo de impeachment de Dilma não deu a Michel Temer o direito de agir dessa forma. "Porque ele não age como interino".
Lula teve a fala interrompida por aplausos quando mencionou o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), afirmando que o Brasil não pode ter complexo de vira-lata. "Não é possível falar grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos."
Depois de fazer uma retrospectiva do fim da ditadura civil-militar no país, o ex-presidente elogiou a atuação dos estudantes que desde o ano passado ocuparam escolas, em um primeiro momento contra o fechamento de unidades da rede estadual de São Paulo pretendido pelo governo de Geraldo Alckmin, e neste ano contra a corrupção na merenda. “Estudantes extraordinários, jovens de 15 ou 15 anos estão ocupando escolas e defendendo o direito de estudar, defendendo o direito de ter qualidade na educação”.
Lula também falou da mobilização das mulheres: “Estão indo para as ruas, lutar contra a violência contra a mulher, contra a cultura do estupro que está estabelecida no mundo inteiro e lutar para que o governo reconheça que não pode haver democracia se não houver um ministério que cuide dos problemas das mulheres neste país”.
O ex-presidente citou ainda a mobilização no setor de cultura, com a ocupação de unidades da Funarte no país desde que teve início o governo interino de Michel Temer, em 12 de maio. “Estão indo para as ruas, os artistas, porque não é possível imaginar que estamos na década de 1950 e você pode tirar o ministério do Esporte, da Educação, da Cultura. No que eles (o governo interino) indicaram, não entendem de educação, não entendem de cultura, não entendem de esporte, e não entendem de democracia”.
“Não é possível imaginar alguém que não tenha sensibilidade de entender a questão da parte negra da nossa sociedade, que foi escravizada durante 300 anos, e faz parte da miscigenação que criou esse povo extraordinário, e eles pegam como vítima o Catalão (José Catalão, que servia o café da presidência e foi demitido por Temer), que foi mandado embora como um peão do Lula e da Dilma. Não é possível não levar em conta que mais da metade desta sociedade é representada por afrodescendentes e nós temos orgulho de pertencer a esse povo.”
Ao criticar a redução de ministérios, Lula disse que “não é possível não reconhecer a violência na periferia, contra a mulher, contra os pobres, espalhada no país e acabar com o ministério de Direitos Humanos. Se a solução fosse excluir ministério era melhor tirar o da Fazenda, Planejamento e tantos outros ministérios e deixar o ministério dos pobres, deixar o ministério que cuida da sociedade, que cuida de gente, de criança, de velho. Não existe maior demonstração do golpe dentro do golpe, porque foi o que aconteceu depois que a Dilma foi afastada”.
“Eu fico imaginando que a atitude do Temer, que deu um golpe na decisão do Senado, porque a decisão de aceitar a admissibilidade e afastar a Dilma enquanto o processo fosse julgado no seu mérito, e deu a interinidade ao Temer, mas ele não agiu como presidente interino. Ele assumiu como se fosse, e com a mesma liberdade, autonomia e autoridade com que Fidel Castro contemplou em Havana, depois da revolução de 1959. O Fidel tinha autoridade, ele tinha feito a revolução, mas o Temer não, e chegou lá através de um golpe dos fascistas, dos conservadores.”
Ouça a íntegra da fala de Lula. 
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